22/02/2010

MARTA BERNARDES

Convocatória – Ensaio aberto

n’a Sala

Rua do Bonjardim, 235 2º


Ando preocupada com o depósito das linguagens. Chamo-lhe assim por agora porque não sei chamar melhor. Com o que que resiste às intenções comunicantes. Chego a pensar que grande parte do que se julga comunicar não comunica, não passa. Apenas um lugar minúsculo, o de uma espécie de concórdia, de consenso virtual permite a ilusão da comunicação, uma lógica comercial dos signos. Mas nem é tanto o problema da comunicação que me ocupa. É mais o que se estende de silêncio, ou talvez de vazio,em cada signo expresso, é o que escapa e que esquece na invenção da tangente. Tenho dificuldades em expressar este inexpressável sem ser de forma poética, metafórica, pouco clara, pouco concisa, sem a geometria de uma explicação. Tudo isto já me é suficientemente difícil se o jogo se joga dentro de um único idioma. Agora imagino a doença filigrana de pensar no encontro de linguagens distintas, idiomas diferentes, mais ainda se pensar em todas as formas possíveis de expressão, em todos os corpos…. que resta da viagem de um sentido por diferentes corpos de expressão? Talvez não reste nada, nem um cadáver, apenas os roteiros das suas viagens, uma biografia periférica dos colos onde desfaleceu, onde se reinventou.E no entanto tudo na vitalidade de um qualquer movimento transporta a significação mais pura, mais próxima da hecatombe, da comoção de uma experiência. Se calhar o que me ocupa é o amor difícil entre toda a vitalidade e todo o código. Provavelmente isto ocupa-me porque já me cansei de abrir a boca para dizer o vazio. Quero dizer “Nós”, entre muitas outras coisas, e que esse dizer seja efectivo. Mas não me é fácil. É para tentar algumas imagens, para partilhar algo desta experiência que vos convoco para este ensaio aberto. Um ensaio pequeno, a nudez comedida de um primeiro passo.Venham e tragam com vocês, se vos aprouver, claro, objectos que possam ser recipientes, receptores de água: grandes, pequenos, habituais, inusitados, mais ou menos resistentes,tragam-se a vocês com as vossas bocas e as vossas mãos, qualquer coisa que possa receber e dar. Juntos inventaremos as correntes, juntos brindaremos à sede.



A obra está sempre em situação profética. Roland Barthes

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